Simone de Beauvoir
O exercício da escrita, algumas vezes torna-se uma tarefa árdua, há dias
que não encontramos palavras ou algo que queira realmente ir para o
papel, entre um hiato e outro, me
distraio com um fato curioso que aconteceu recentemente na cidade, via FACEBOOK
e me levou a uma tentativa de reconstrução do pensamento humano em relação a
posição que a mulher ocupa na sociedade e como tudo isso foi se desenvolvendo
até chegarmos aqui. Grosso modo, podemos dizer que a figura feminina, parte de
sagrada (no sentido de geradora de vida), nas sociedades primitivas, para
“pecadora e nociva” até aproximadamente do século XVIII com o final da inquisição, porém, até chegar ai, a
coisa toda já tinha desandado, a implantação da sociedade patriarcal, com o
forte apoio da religião, em especial o cristianismo e seguindo com sistema
capitalista – foram fundamentais, para a condição de “inferioridade” e opressão
que o gênero feminino encontra-se hoje, apesar de lutas de grandes mulheres em
todas as épocas.
As questões culturais são tão incisivas e calcificadas, que com o passar
do tempo, passam a ser repetidas, como se fossem a única verdade, a única
maneira de se estar no mundo, basta olhar ao passado para percebermos o caminho
percorrido até chegarmos hoje à discussão
sobre repressão sexual e orgasmo ou casamento e maternidade – fica claro a
reprodução (inclusive por nós, mulheres) do pensamento machista em nossas
pequenas ações diárias. .
Pensei em mulheres que escandalizaram suas épocas, pensei em Leila
Diniz, que chocou a sociedade nos anos 60 exibindo sua gravidez usando um
biquíni e declarando abertamente seu gosto por sexo e liberdade, pensei em
Pagú, seu cigarro, suas blusas transparentes e seu posicionamento político,
Simone de Beauvoir, suas ideias seus escritos, seu legado, todas as suas reflexões tão certeiras a respeito da mulher,
recordei as conquistas principalmente na
questão trabalhistas e de direitos sociais, porém, com certa tristeza percebi
que em relação a construção do pensamento, pouca coisa caminhou, o corpo
feminino continua tabu, o aborto, a opção por não ser mãe, por não ser esposa,
ainda é vista com muito preconceito, as mulheres são cobradas pela sociedade (que é feita de homens e mulheres), na questão de “construir
família”, aquela tradicional com marido e filhos, de quebra um animal de
estimação.
Talvez o que nos falte é fazer perguntas, o ensino formal não ensina a
perguntar, ele dá respostas prontas, padronizadas, sempre reforçando os
interesses dos mais “poderosos”. Perguntas simples como -Por que eu não posso? Quem quer assim? Tem que ser deste
jeito? pequenas reflexões diárias, cotidianas, frente à fatos corriqueiros, como a escolha de uma roupa, de uma amizade,
de um comportamento – mudanças internas que
verdadeiramente farão a diferença. Construir o próprio pensamento em relação à
pequenas atitudes, valorizando o bem estar que isso proporciona e a liberdade
de poder escolher, dá trabalho, incomoda os “outros”, mas pode ser muito
prazeroso e nos livrar do “senso comum” e livrar o próximo de nossos
julgamentos. A mulher tem direitos absolutos sobre o próprio corpo, o que vestir, e o que fazer com ele é decisão única e exclusivamente dela. é hora de começar a exercer este direito.
Em relação à foto que “deu o que falar” na última semana, provocando
comentários (homens e mulheres) desagradáveis e pasmem “copiada para celulares e arquivos pessoais”(?),
devido a uma transparência que Juliana Finardi exibe, com muita categoria
diga-se de passagem, devo dizer que me escandaliza sim, o número de crianças
que morrem de fome e desnutrição, as filas intermináveis no sistema público de
saúde, os homicídios por banalidades que acontecem diariamente, a corrupção
descarada e legitimada no poder publico e entre tantas outras coisas, a
hipocrisia.
“mulheres bem-comportadas não fazem
história”. Maria Shiver