Considerada a mais antiga das manifestações artísticas, a
dança esteve presente em rituais sagrados, em casamentos, em funerais, na
preparação de guerreiros, dançava-se em agradecimento pelas vitórias, para que viesse
a chuva, para receber as estações do ano, para semear e colher, enfim, dançar tem
sido ao longo do tempo, comunicar, encantar, relacionar-se com o sagrado, com o
outro, estar em harmonia, em equilíbrio
(mente e corpo), dançar é celebrar a vida, dar espaço para que o espírito
desenhe seu movimento, escreva seus anseios no espaço.
Não podemos datar exatamente, quando surgiu esta expressão
humana, mas através de pinturas de povos primitivos, podemos ter uma ideia da “idade”
deste exercício tão prazeroso e das modificações que sofreu durante toda a “evolução”.
Presentes nos principais acontecimentos
e festividades, ainda hoje, dançarinos/bailarinos, vêm seduzindo o público e em
festas mais “populares”, convidando-o para entrar na roda, tornando todos, um único
corpo e restituindo o elo perdido com a própria essência.
Nesta opção em escrever sobre a Dança, tive a felicidade
de conhecer Adriana Gomes, uma artista do movimento, com sua dança visceral,
dramática e ao mesmo tempo, leve, graciosa e carregada de sentimentos, nela
tudo dança em perfeita harmonia, seus olhos, suas mãos, seu coração, impossível
presenciar e não sair modificado é contagiante e verdadeira. Formada em Educação Física pela UEL
(Universidade Estadual de Londrina), fez especialização em dança pela
Universidade Gama Filho em Florianópolis, viveu a vida dançando, bailarina
clássica, não esconde sua paixão pela dança contemporânea, pela liberdade,
teatralidade e simplicidade que a vertente permite e tem como referências os
trabalhos de Pina Bausch e Deborah Colker. Atualmente está à frente como
proprietária, professora e administradora, de um Centro de Artes, que oferece
além de 14 modalidades de dança, experiências nas áreas de teatro, circo e contato
com cenografia voltada para espetáculos de dança, tudo em um mesmo espaço
convivendo de forma interdisciplinar e esta maneira de conduzir o trabalho, tem
rendido belos frutos, com grupos de alunos participando do Festival de Dança de
Joinville – considerado o maior da America Latina- ainda, alunos que passaram
pela escola fazendo parte do Balé Guaíra e no Núcleo BOLSHOI, de Joinville.
Falar sobre “arte” genuína, em uma sociedade onde a
palavra “cultura” perdeu um pouco de sua dimensão, os termos acabam misturando-se e esvaziando suas
especificidades, que entendo ser primordial para o avanço, tanto de um como de
outro. Quando falo em “Cultura”, sendo bem sucinta, refiro-me ao “modo de vida”
de uma sociedade/comunidade/grupo, seus hábitos, costumes, tradições,
“repetições”, já quando cito “Arte”, quero falar de “invenção”, novos olhares, diferente
de tudo que é conhecido ou, no mínimo, a busca de “outras possibilidades de relacionamentos”,
esta inquietação, este “atrevimento”, é inerente ao espírito do artista, digo
isto, porque sinto na nossa bailarina, esta “ousadia” e disponibilidade para
novas experiências, esta vontade de transgredir, de ir além. Adriana tem
projetos para ampliação da Escola, de trazer os “Folguedos” para um trabalho de
dança contemporânea e o que considero mais urgente: a volta dela aos palcos,
com um espetáculo solo (o artista ocupando seu espaço e deixando um pouco a
sala de aula. Simplesmente “MARAVILHOSO”). Foz necessita, tem público sedento
de arte, de provocações que nos tirem do “eixo” e tem potencial para tornar-se
um grande celeiro de talentos e desenvolvimento artístico. “As flores do nosso
jardim são tão, ou mais, coloridas e perfumadas que as do jardim do nosso
vizinho”, não é preciso ser especialista para perceber, é urgente abrir o
espaço, fomentar produções, celebrar o novo, aplaudir quando o trabalho é
honesto, verdadeiro, singular e acima de tudo permitir e acreditar.
Voltando à dança, em outras palavras, seja o clássico ou
contemporâneo, não importa a tendência, o que interessa verdadeiramente é que o
movimento flua livremente, que expresse a essência única de cada indivíduo,
cada um dentro de suas potencialidades e limitações, que a dança possa derrubar
bloqueios herdados por uma cultura da “lei do menor esforço”, uniformizada e
padronizada em busca da praticidade.
Como afirmou Klaus Vianna:
“a dança se faz não apenas dançando, mas também
pensando e sentindo: dançar é estar inteiro”.
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