Fran Rebelatto (foto Susana Leite)
Durante minhas leituras sobre fotografia, sobre o
fascínio que exerce nas pessoas, sobre sua democratização através da facilidade
que a era digital nos trouxe, sobre esta nova maneira de “escrever a história
pessoal”, encontrei a “MIKSANG”, palavra tibetana que quer dizer “bom olho”. A
Fotografia MIKSANG, mais que um estilo, é também um exercício de meditação,
acima de tudo é a contemplação do cotidiano, sem julgamentos, sem pré-conceitos,
é estar presente, perceber que entre um ponto e outro, existe um caminho e justamente
aquilo que encontramos no caminho, interessa nesta prática, em “outras
palavras”, as coisas “simples”, como diria Manoel de Barros, as “insignificâncias”,
os “nadas” – que somente quem contempla
percebe suas grandezas e transforma em poesia (esclarecendo que a imagem na
maioria das vezes não vem acompanhada da palavra, o poema escrito, é uma
opção).
Para minha surpresa, encontrei nas redes sociais, uma
fotógrafa residente em Foz do Iguaçu, que está desenvolvendo um trabalho neste
sentido, um desafio de 365 dias (2013) que batizou de “FOTOPOESIA” – o projeto
consiste em captar uma imagem a cada dia, “via Iphone”, conforme seu humor,
estado de espírito, “desassossego” e a partir dela, da imagem, “poetar” (às
vezes acontece o caminho inverso, partindo da palavra -poema ou frase poética-
ela sai em busca da imagem perfeita que juntas “palavra e imagem” representem
aquele sentimento).
Fran Rebelatto, além de fotógrafa formada em Comunicação Social
- Jornalismo, com mestrado em Antropologia é Realizadora Audiovisual e Professora
de Cinema e Audiovisual na UNILA. Gaúcha natural de Charrua, onde viveu até seus
16 anos em comunhão com a natureza, com os animais, com a terra e tomando banho
nos rios. Filha de pais “musicais”, sonhou ser “contadora de histórias”,
aprendeu com as estações do ano, como a luz do sol se apresentava em cada uma
delas, se encantou com cores e contrastes e se alimentava de livros, em
especial de Érico Veríssimo e o romance “CLARISSA”, onde descobriu o mundo das
imagens, a partir daí, estreitou sua relação com elas (as imagens). Em Santa
Maria, onde fez a faculdade, trabalhou como foto-jornalista, fotografou
espetáculos de teatro, expôs alguns trabalhos, se interessou pela fotografia
antropológica, tendo como referência o trabalho do fotógrafo Sebastião Salgado.
Atualmente está em fase de Pré-produção em dois projetos
de cinema: “Às Pedras Baixas´” – estética da solidão e do abandono do campo
(longa, sobre a cidade onde nasceu) e “Do Amor: Pequenas Coisas” (curta,
financiado pela Itaipu,que será filmado em agosto deste ano), além de fazer
parte da equipe de produção do projeto “CURTA Iguaçu”
Sobre fotografia, penso que em todas as vertentes, o
olhar do fotógrafo e a “boa ideia”, precedem o equipamento e a técnica, sem
descartar, absolutamente, o que isso pode agregar ao resultado do trabalho. Como
“expressão artística”, que é o caminho que Fran escolheu, é imprescindível o “olhar
poético” aguçado e isso ela tem de sobra, há poesia em sua visão política, em
seu entendimento da “fronteira”, em sua relação com a cidade e o espaço que
ocupa. Quando peço uma imagem que, para ela, represente Foz do Iguaçu, ela me
entrega o céu, com todas as suas cores e os desenhos formados pelas nuvens. “O céu desta cidade é especial, diferente dos
outros”, diz ela. Quanta poesia!
Escolhemos, com dificuldades, algumas imagens para
publicar, do projeto de FOTOPOESIA (trabalho que ao final dos 365 dias deve
virar livro e/ou exposição), todas são especiais e carregadas de sentimentos
que possibilitam várias leituras, tanto separadas (a imagem da palavra) como
juntas, nos propondo um terceiro caminho. Sem dúvida a “gaucha de Charrua”
conseguiu realizar o sonho de menina, através de imagens, transformou-se em uma
grande “contadora de histórias”.
“Todas as coisas cujos valores
podem ser disputados no cuspe, à distância, servem para poesia”
(Manoel de Barros)
(Manoel de Barros)
Contato: fran.rebelatto@hotmail.com
Gosto desse amor... desse que se revoa... chega leve como cócegas
nos pensamentos toma forma de água / borboleteia em meus pés
e depois foge:
como quem um dia vai embora...
Dedico ao meu irmão...
Dá-me solo cinco minutos
antes de macharme sola...
pela garganta
Dame
do outro lado do duplo ensejo de viajar-se na face oculta da estrada
vazia do estranho desconhecido que é nosso próprio outro...
Gosto desse amor... desse que se revoa... chega leve como cócegas
nos pensamentos toma forma de água / borboleteia em meus pés
e depois foge:
como quem um dia vai embora...
Dedico ao meu irmão...
Dá-me solo cinco minutos
antes de macharme sola...
pela garganta
Dame
do outro lado do duplo ensejo de viajar-se na face oculta da estrada
vazia do estranho desconhecido que é nosso próprio outro...
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