segunda-feira, 29 de julho de 2013

Fotografia como linguagem poética



                                                                                Fran Rebelatto (foto Susana Leite)




                    Durante minhas leituras sobre fotografia, sobre o fascínio que exerce nas pessoas, sobre sua democratização através da facilidade que a era digital nos trouxe, sobre esta nova maneira de “escrever a história pessoal”, encontrei a “MIKSANG”, palavra tibetana que quer dizer “bom olho”. A Fotografia MIKSANG, mais que um estilo, é também um exercício de meditação, acima de tudo é a contemplação do cotidiano, sem julgamentos, sem pré-conceitos, é estar presente, perceber que entre um ponto e outro, existe um caminho e justamente aquilo que encontramos no caminho, interessa nesta prática, em “outras palavras”, as coisas “simples”, como diria Manoel de Barros, as “insignificâncias”, os “nadas” –  que somente quem contempla percebe suas grandezas e transforma em poesia (esclarecendo que a imagem na maioria das vezes não vem acompanhada da palavra, o poema escrito, é uma opção).
Para minha surpresa, encontrei nas redes sociais, uma fotógrafa residente em Foz do Iguaçu, que está desenvolvendo um trabalho neste sentido, um desafio de 365 dias (2013) que batizou de “FOTOPOESIA” – o projeto consiste em captar uma imagem a cada dia, “via Iphone”, conforme seu humor, estado de espírito, “desassossego” e a partir dela, da imagem, “poetar” (às vezes acontece o caminho inverso, partindo da palavra -poema ou frase poética- ela sai em busca da imagem perfeita que juntas “palavra e imagem” representem aquele sentimento).     
                    Fran Rebelatto, além de fotógrafa formada em Comunicação Social - Jornalismo, com mestrado em Antropologia é Realizadora Audiovisual e Professora de Cinema e Audiovisual na UNILA. Gaúcha natural de Charrua, onde viveu até seus 16 anos em comunhão com a natureza, com os animais, com a terra e tomando banho nos rios. Filha de pais “musicais”, sonhou ser “contadora de histórias”, aprendeu com as estações do ano, como a luz do sol se apresentava em cada uma delas, se encantou com cores e contrastes e se alimentava de livros, em especial de Érico Veríssimo e o romance “CLARISSA”, onde descobriu o mundo das imagens, a partir daí, estreitou sua relação com elas (as imagens). Em Santa Maria, onde fez a faculdade, trabalhou como foto-jornalista, fotografou espetáculos de teatro, expôs alguns trabalhos, se interessou pela fotografia antropológica, tendo como referência o trabalho do fotógrafo Sebastião Salgado.
                   Atualmente está em fase de Pré-produção em dois projetos de cinema: “Às Pedras Baixas´” – estética da solidão e do abandono do campo (longa, sobre a cidade onde nasceu) e “Do Amor: Pequenas Coisas” (curta, financiado pela Itaipu,que será filmado em agosto deste ano), além de fazer parte da equipe de produção do projeto “CURTA Iguaçu”
Sobre fotografia, penso que em todas as vertentes, o olhar do fotógrafo e a “boa ideia”, precedem o equipamento e a técnica, sem descartar, absolutamente, o que isso pode agregar ao resultado do trabalho. Como “expressão artística”, que é o caminho que Fran escolheu, é imprescindível o “olhar poético” aguçado e isso ela tem de sobra, há poesia em sua visão política, em seu entendimento da “fronteira”, em sua relação com a cidade e o espaço que ocupa. Quando peço uma imagem que, para ela, represente Foz do Iguaçu, ela me entrega o céu, com todas as suas cores e os desenhos formados pelas nuvens.  “O céu desta cidade é especial, diferente dos outros”, diz ela. Quanta poesia!
                    Escolhemos, com dificuldades, algumas imagens para publicar, do projeto de FOTOPOESIA (trabalho que ao final dos 365 dias deve virar livro e/ou exposição), todas são especiais e carregadas de sentimentos que possibilitam várias leituras, tanto separadas (a imagem da palavra) como juntas, nos propondo um terceiro caminho. Sem dúvida a “gaucha de Charrua” conseguiu realizar o sonho de menina, através de imagens, transformou-se em uma grande “contadora de histórias”.  
 
“Todas as coisas cujos valores podem ser disputados no cuspe, à distância, servem para poesia”
(Manoel de Barros)

Contato: fran.rebelatto@hotmail.com







                                     Gosto desse amor... desse que se revoa... chega leve como cócegas
                                     nos pensamentos toma forma de água / borboleteia em meus pés
                                     e depois foge:
                                     como quem um dia vai embora...

                                                            
                                                      Dedico ao meu irmão...  


                                                                      Dá-me solo cinco minutos
                                                                      antes de macharme sola...
                                                                      pela garganta

                                                                      Dame



                                               do outro lado do duplo ensejo de viajar-se na face oculta da estrada
                                                       vazia do estranho desconhecido que é nosso próprio outro... 

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