Há algum tempo, em uma praça ou
espaço público da cidade, amigos reuniam-se para trocar ideias sobre arte e
praticar “malabares”, nas mochilas, bolinhas, argolas, claves e muitos sonhos,
assim, iluminados pelo satélite natural que acompanha nosso planeta, surgiu o
nome e a “TRUPE LUZ DA LUA”, fundada e liderada por João Batista Andrade e mais
dois amigos, Tiago Silva e Reginaldo Silva. Em 2005 o grupo começa a se
profissionalizar, participando de oficinas e cursos voltados para a área do
circo e se organizar como empresa, sentindo a necessidade de pesquisar a
linguagem “Clown” (palhaço), descobrem neste universo, os palhaços Muamba,
Marmita e Canelinha e com eles, toda a questão de resgate e respeito a esta
figura tão marginalizada e banalizada nos dias de hoje e ao mesmo tempo,
romântica, verdadeira e intensa, talvez o personagem que melhor represente a
alma humana, com todas as paixões, mazelas, incoerências, carrega com leveza e
astúcia a tragédia humana e ainda se diverte com isso.
Fica evidente o descontentamento da Trupe, em relação ao
uso indevido do “nariz” (a menor máscara do mundo), da técnica de malabares
(para pedir “esmolas em sinais”) e o sentido da palavra “palhaço” aplicada
para designar atitudes nada nobres, quando associada a alguns políticos, “eles
não são artistas, não são palhaços, são outra coisa, ruim, que não tem nada a
ver com arte nem poesia” - diz João. Eu concordo e ainda acrescento, em
minha infância, ia ao circo para ver os palhaços, atualmente crianças não
querem ir ao circo, justamente por causa deles e não por aqueles que estão lá,
mas pelos exemplos agressivos e sem nenhuma ternura e carisma, que estão
espalhados pelas ruas, principalmente em liquidação de lojas, buzinando e
assustando os transeuntes.
Formado em Serviço Social, João Andrade, embora prime pelo
investimento na qualidade da arte que representa e em seu trabalho como
artista, sempre em seu discurso, deixa evidente a preocupação com a questão
“social”, em promover a acessibilidade a pessoas menos favorecidas e com a
formação de plateia, a partir deste contexto em que ele e o grupo se colocam, a
trupe constitui em 2010 a ONG – “Núcleo de Circo da Fronteira” que ainda não
possui sede – utiliza para ensaios e reuniões, um antigo ginásio
emprestado provisoriamente pela secretaria de educação, no qual não pode fazer
nenhuma adaptação nem reforma - mas já promove atividades ( a entidade levou
por duas vezes, com recursos próprio 15 crianças para assistirem apresentações
do “Cirque Du Soleil” e oferece na “sede provisória”, atividades
gratuitas), sem nenhum apoio financeiro municipal, estadual ou federal, vivem e
se alimentam com o retorno que o próprio trabalho que desenvolvem lhes
proporciona: oficinas de circo (em várias modalidades), apresentações em
eventos (formato infantil e adulto), festivais e festas infantis. Uma postura
louvável, embora, o incentivo, o fomento (não o “sustento”) através de empresas
públicas e privadas em um caso como este seria no mínimo “muito elegante”,
afinal, a Trupe, atualmente com 11 integrantes entre atores, malabaristas,
acróbatas e músicos, tem projetos que envolvem crianças e adolescentes e
sabemos da eficiência da arte como elemento para construção de uma política de
inclusão e resgate da cidadania.
Admirável e confortante é saber que aqui, bem perto,
existem artistas preocupados com a qualidade do seu trabalho, isso significa
respeito pelo público e pelo ofício. As pessoas que vivem “pela” arte me emocionam a cada dia, mesmo
com um mundo assim tão torto, negro e perigoso como está, ainda tem gente que
se alimenta de sorrisos e vive feliz. Isso me faz continuar...
"Se um homem pode fazer
apenas uma pessoa feliz durante toda uma vida, então sua vida foi justificada" (Charles Bukowski)
Contatos: joaomalabares@hotmail.com fone (45) 9813 1000
João Andrade um dos fundadores da TRUPE
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