quinta-feira, 18 de julho de 2013

Respeitem o meu nariz!


              Há algum tempo, em uma praça ou espaço público da cidade, amigos reuniam-se para trocar ideias sobre arte e praticar “malabares”, nas mochilas, bolinhas, argolas, claves e muitos sonhos, assim, iluminados pelo satélite natural que acompanha nosso planeta, surgiu o nome e a “TRUPE LUZ DA LUA”, fundada e liderada por João Batista Andrade e mais dois amigos, Tiago Silva e Reginaldo Silva. Em 2005 o grupo começa a se profissionalizar, participando de oficinas e cursos voltados para a área do circo e se organizar como empresa, sentindo a necessidade de pesquisar a linguagem “Clown” (palhaço), descobrem neste universo, os palhaços Muamba, Marmita e Canelinha e com eles, toda a questão de resgate e respeito a esta figura tão marginalizada e banalizada nos dias de hoje e ao mesmo tempo, romântica, verdadeira e intensa, talvez o personagem que melhor represente a alma humana, com todas as paixões, mazelas, incoerências, carrega com leveza e astúcia a tragédia humana e ainda se diverte com isso.

              Fica evidente o descontentamento da Trupe, em relação ao uso indevido do “nariz” (a menor máscara do mundo), da técnica de malabares (para pedir “esmolas em sinais”) e o sentido da palavra  “palhaço” aplicada para designar atitudes nada nobres, quando associada a alguns políticos, “eles não são artistas, não são palhaços, são outra coisa, ruim, que não tem nada a ver com arte nem poesia” - diz  João. Eu concordo e ainda acrescento, em minha infância, ia ao circo para ver os palhaços, atualmente crianças não querem ir ao circo, justamente por causa deles e não por aqueles que estão lá, mas pelos exemplos agressivos e sem nenhuma ternura e carisma, que estão espalhados pelas ruas, principalmente em liquidação de lojas, buzinando e assustando os transeuntes.

              Formado em Serviço Social, João Andrade, embora prime pelo investimento na qualidade da arte que representa e em seu trabalho como artista, sempre em seu discurso, deixa evidente a preocupação com a questão “social”, em promover a acessibilidade a pessoas menos favorecidas e com a formação de plateia, a partir deste contexto em que ele e o grupo se colocam, a trupe constitui em 2010 a ONG – “Núcleo de Circo da Fronteira” que ainda não possui sede – utiliza para ensaios e reuniões, um  antigo ginásio emprestado provisoriamente pela secretaria de educação, no qual não pode fazer nenhuma adaptação nem reforma - mas já promove atividades ( a entidade levou  por duas vezes, com recursos próprio 15 crianças para assistirem apresentações do “Cirque Du Soleil” e oferece  na “sede provisória”, atividades gratuitas), sem nenhum apoio financeiro municipal, estadual ou federal, vivem e se alimentam com o retorno que o próprio trabalho que desenvolvem lhes proporciona: oficinas de circo (em várias modalidades), apresentações em eventos (formato infantil e adulto), festivais e festas infantis. Uma postura louvável, embora, o incentivo, o fomento (não o “sustento”) através de empresas públicas e privadas em um caso como este seria no mínimo “muito elegante”, afinal, a Trupe, atualmente com 11 integrantes entre atores, malabaristas, acróbatas e músicos, tem projetos que envolvem crianças e adolescentes e sabemos da eficiência da arte como elemento para construção de uma política de inclusão e resgate da cidadania.

             Admirável e confortante é saber que aqui, bem perto, existem artistas preocupados com a qualidade do seu trabalho, isso significa respeito pelo público e pelo ofício. As pessoas que vivem “pela” arte me emocionam a cada dia, mesmo com um mundo assim tão torto, negro e perigoso como está, ainda tem gente que se alimenta de sorrisos e vive feliz. Isso me faz continuar...



"Se um homem pode fazer apenas uma pessoa feliz durante toda uma vida, então sua vida foi justificada" (Charles Bukowski) 

Contatos: joaomalabares@hotmail.com  fone (45) 9813 1000





                                           João Andrade um dos fundadores da TRUPE







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